quinta-feira, 17 de junho de 2010

A valsa do Pierrot

Meu rosto formigou, e logo então, senti a vermelhidão e a angústia tomar conta de minha face, que suavemente tinha um sorriso estampado até então. Cada gota de suor que por minha testa corria, uma martelada. Cada ironica palavra, uma ferroada. Fora assim por longos cinco minutos. Fora assim, quando tive todos meus pequenos e modestos sonhos disseminados. Assim, eu tive tudo jogado ao vento. Cada palavra cogitada, cada lágrima, cada gota de insensato orgulho, cada minúsculo segundo perdido.
E a plateia do meu salto para o nunca-mais-feliz sorria. Alegremente, sorria. Um Pierrot chorando se destacava, estupefato com a reviravolta, comovido, soluçava e com um rubor imenso, gritei. Gritei para avisar que tudo estava desmoronando. Gritei para avisar que sim, caneta nenhuma se sentiria incomodada com o toque gelado e lúgubre de minhas mãos, para avisar que todos os meus papéis poderiam sair correndo, para longe, bem longe de mim. Gritei, para deixar claro que por muito tempo, isso fora meu sonho, e que com sonhos, não se brincam.
Como em um jogo de cartas, apostei todas e quaisquer fichas, todos e quaisquer sorrisos, vários dias e neurônios no meu sonho, que tinha sido estraçalhado a frente de uma bela plateia de palhaços deprimidos, e na frente do pobre Pierrot, que só chorava. Conhecido ele por sinal. Em vários episódios aparecera, sempre chorando. E quem seria? Quem seria este, que ia contra a corrente? Quem seria este que gritara de dor tantas outras vezes? Quem seria esse que agora, estava recolhendo pedaços rutilantes e minúsculos, com cheiro de chá mate às três da tarde, com jeito de apartamento em cidade barulhenta, com o som de máquina de escrever antiga?
Quem seria este, que tem uma mancha negra escorrendo em sua face, uma cabeça baixa e olhos famintos? Talvez seria a parte de mim, que não se adapta à mudanças. A parte de mim que sempre acredita em sonhos, a minha parte doce, melancólica e surreal. A parte que não quer que eu mude, que se lamenta a cada queda, a cada pedra no caminho. A parte que sempre chora, sempre se machuca, e sempre espera o contrário disso. E a vida prossegue mesmo assim. Passo pra frente, passo pra trás, soluço atrás de soluço. Um giro, um grande medo de outra possível queda, e vejo o Pierrot ao espelho, realmente me refletindo em si.

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