sexta-feira, 26 de março de 2010

matará-me.

entre as repugnâncias de uma vida sem fundamento e da miséria no mundo, eu fico com a miséria no mundo.
é mais precário os danos causados na alma do que no corpo. dói mais uma ferida que pulsa constantemente em algum lugar perdido do corpo cansado, do que um ralado, uma fratura. dói menos a fome, dói menos fogo extremo de qualquer inferno perdido. injeções de morfina não adiantam. é preciso mais que isso.
nada estaca a dor. nada para o sangramento. nada cauteriza e nem me traz efeito cicatrizante.
e se qualquer pedido de desculpas ou explicações aliviassem essa dor, todo mundo se desculparia, se explicaria. mas não, e que pena, não resolve. as cartas foram lançadas, lançadas em direção à alma, fundo, e com efeito de navalhas.
dor no corpo passa, volta, tem cura. dor na alma não. dor na alma persiste, ocupa a cabeça, o pé, a perna, o braço, os olhos, e por inteiro o coração.
tempo não resolve também. tempo piora tudo. tempo traz esquecimento, e esquecimento demais dói excessivamente.
e o silêncio meus caros, não se enganem: o silêncio serve como eutanásia na alma. mata. faz chorar, gritar, descabelar. e mata, sempre mata no final. faz sofrer o triplo, arranca aos poucos, derrete, desmancha, como ácido percorrendo minhas veias agora. como dor de dor profunda, como ânsia de vomitar o estômago, o rim, o fígado, pulmões, e intestinos.
o silêncio mata. e não deixa vestígios. o silêncio mata, demora, faz sofrer, mas mata. matará-me.

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