segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

me deixa aqui e não tira mais.

aquele assovio me chamou, me agradou, me conturbou. o segui, para longe, para trás... fui passando, momento a momento, segundo a segundo os meus dias vividos. meu Deus, como me apavorei! quantos erros, quantas faces, uma grande mutação;
o assoviu sumiu lentamente, se distanciou. corri tanto, corri mais que minhas curtas pernas aguentaram correr, e o perdi. acredite, me perdi em mim mesma. mas não sei se realmente sou eu. não reconheço nada aqui, me sinto mal, pesada, culpada. um gelo na espinha me pegou de surpresa, me derrubou no chão, e ainda estou caída. ao menos penso que estou. agora, estou revendo minha estranha mania de ser tão teimosa, de ser tão deprimente, enjoativa, adocicada... como essa "gaiola" é insuportável!
tentei gritar, chamar, me debater, sem resposta. talvez porque seja isso mesmo. porque esteja incapacitada de me tirar daqui. talvez porque não covenha responder, talvez porque isso não seja nada além de um sonho ruim.
agora já sinto forças. já tenho minhas pernas bastante ágeis. bato um pouco do pó da roupa e saio em caminhada, a procura de qualquer coisa que me leve de volta aos olhos da realidade.
pareço caminhar por quilômetros, mas nada além de poeira, nada além de papéis rasgados, de lágrimas, de pedaços...
mas que lixo! que desordem! credo em cruz, Deus-me-livre de viver aqui. tudo cinza, tudo chato, tudo amargo, sem vida, sem glória, sem luz.
dois assassinatos, uma paixão, várias mágoas, poucos amigos, enlouquentes desejos: são as únicas coisas inteiras que avisto. empoeiradas e pouco gastas, mas ainda vivas. ainda bate um coração aqui, disto tenho certeza, pois ouço leves e calmas batidas. soam como gemidos de dor e agonia, mas ouço o ritmo, o compasso.
para, e volta. para, e volta. quase morte, e vida. quase morte, e vida. piso em alguns cacos, e ao invés de deixar uma grande trilha de sangue, deixo uma enorme poça com cheiro de morte, de dor, de carne podre. me tira daqui, por favor!
não sou eu. disso tenho certeza quase plena! vou buscar alguma coisa que me dê certezas, respostas, que é isso o que devo buscar.
"você aqui? como vai?" -vácuo. grande vácuo. e sumiu, desapareceu. tomou forma de uma represa salgada, com estrondos de choro. mas, quando percebo que é uma represa de lágrimas, muda de novo, e se torna uma nuvem, e continua mudando... uma música, uma noite, uma palavra, e por fim, um par de olhos. que lindos olhos, que sede de tomá-los!
sou eu. mudei de ideia. sou eu mesma. mudando da água para o vinho, me assombrando com cada pedacinho escondido de lembrança. com um nojo e um desprezo enorme de tudo o que faz parte de mim. com todas caras de choro, com tantos sorrisos guardados, com pouco amor no peito.
de alguma coisa agora tenho certeza ao menos. e de outra ando tomando conta de tornar certeza: daqui eu não quero sair.

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